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sábado, 24 de novembro de 2012

A política e o erótico



A sociedade cabo-verdiana é muito erotizada. A luta no campo político tem como objectivo não só a satisfação de uma lacuna estrutural, à satisfação material, mas também aos apetites libidinosos. Os detentores de cargos públicos usam essa estratégia como artefacto de aranha para atrair para as suas teia muitas mulheres. O mais incrível é que essa lógica tem vindo a se reproduzir aos olhos da sociedade civil, vezes apática, sem capacidade de travão.
A explicação para esse comportamento talvez tenha a explicação histórica. Numa visão de «arqueologia» da nossa história social, se quiserem de sociologia histórica, a situação de envolvimento sexual entre os detentores do poder e a classe menos favorecida sempre esteve presente. Foi assim com os senhores e as escravas, o mesmo comportamento se verificou no seio da religião. No período colonial, celebrado num contexto tradicional, inexistindo alguns elementos de suporte de igualdade, a violência sexual entre homem (masculinidade descondicionada) e a mulher era socioculturalmente aceito como normais.
No período pós-colonial, impulsionada pelos movimentos feministas e a conquista democrática, a masculinidade (com força condicionada) continua, a laborar na região sombra, à praticar violências sexuais sobre as mulheres. O favorecimento sexual para obtenção de um emprego e cargos mais elevados constitui uma problemática que deve ser combatida. Malgrado o discurso de equidade do género, esta constitui mais um protesto estético que pauta pela visibilidade do que uma luta mais eficiente. A violência baseada no género, por ser uma realidade multidimensional, deve ser tratada e problematizada como tal.
A visibilidade dada à violência física continua a ser um handicap para outras lutas igualmente importantes. A violência psicológica, a violência sexual de base negocial (para emprego), constituem dimensões subtis muitas vezes descuradas e vezes legitimadas. A violência sexual de base negocial constitui uma realidade hollywoodesca que grassa na nossa sociedade. A legitimação de uma relação serial, extraconjugais, é vista como estratégia de ascensão social, com usos e abusos de sexo, para se singrar na vida.
O problema é saber até quando se pode legitimar tais práticas numa sociedade que se quer moralizada…  

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