A sociedade cabo-verdiana é
muito erotizada. A luta no campo político tem como objectivo não só a
satisfação de uma lacuna estrutural, à satisfação material, mas também aos
apetites libidinosos. Os detentores de cargos públicos usam essa estratégia
como artefacto de aranha para atrair para as suas teia muitas mulheres. O mais incrível
é que essa lógica tem vindo a se reproduzir aos olhos da sociedade civil, vezes
apática, sem capacidade de travão.
A explicação para esse
comportamento talvez tenha a explicação histórica. Numa visão de «arqueologia»
da nossa história social, se quiserem de sociologia histórica, a situação de
envolvimento sexual entre os detentores do poder e a classe menos favorecida sempre
esteve presente. Foi assim com os senhores e as escravas, o mesmo comportamento
se verificou no seio da religião. No período colonial, celebrado num contexto tradicional,
inexistindo alguns elementos de suporte de igualdade, a violência sexual entre
homem (masculinidade descondicionada) e a mulher era socioculturalmente aceito
como normais.
No período pós-colonial, impulsionada
pelos movimentos feministas e a conquista democrática, a masculinidade (com força
condicionada) continua, a laborar na região sombra, à praticar violências sexuais
sobre as mulheres. O favorecimento sexual para obtenção de um emprego e cargos
mais elevados constitui uma problemática que deve ser combatida. Malgrado o
discurso de equidade do género, esta constitui mais um protesto estético que
pauta pela visibilidade do que uma luta mais eficiente. A violência baseada no género,
por ser uma realidade multidimensional, deve ser tratada e problematizada como
tal.
A visibilidade dada à violência
física continua a ser um handicap para outras lutas igualmente importantes. A
violência psicológica, a violência sexual de base negocial (para emprego),
constituem dimensões subtis muitas vezes descuradas e vezes legitimadas. A violência
sexual de base negocial constitui uma realidade hollywoodesca que grassa na
nossa sociedade. A legitimação de uma relação serial, extraconjugais, é vista
como estratégia de ascensão social, com usos e abusos de sexo, para se singrar
na vida.
O problema é saber até quando
se pode legitimar tais práticas numa sociedade que se quer moralizada…
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