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Poesia urbana


Caçu bodi

A rua grita
O vento petrifica
O silencio foge
As sombras apertam em arcos
Densificam-se a cada passo 
No meio das sombras ouve-se
gritos, tiros, facadas e estalos
 fogem as sombras 
chegam os holofotes 
Cá estou eu, sem 
vida, violada e gozada
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Eclipse no bairro
Na minha cidade o tempo virou outro
Já não se vive em paz, no sossego da urbe
Os latidos de boka bedju já é galo
Os cães estão com medos
Acordo sem dormir
O sono há muito que voou
Na cidade cruzam silêncios
Silêncios gritantes
A Josefa foi a enterrar
O Antero ficou coxo
O Carlinhos foi preso
A bala perdida eclipsou
Na nossa casa vivemos em cave
As portas com ferrolhos batem a latão
O vizinho não acuda
Escuta por detrás da porta
A sirene da BAC brinda no tempo
As luzes em flashes
O tempo pára
 O bairro chora
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Teia

Neste tecido
Fico preso num golpe
Olhares suspeitos
Gesto na mira da denuncia
Um andar para lado nenhum
Tece tudo….
Enquanto vejo o portal da salvação
Porque enquanto a solidão
Se apossa de mim
Bebo água
---//---
 
aos solitários anónimos

 Quem sou eu?
Sou os homens da vida
As nacionalidades em trânsito
As caras tapadas pelas sombras das cidades
Sou os anónimos do tempo
Os vadios de sempre que lutam
Com as mãos calosas e trémulas
Aqueles que andam no calçadão
Que labutam no alcatrão
De caras pintadas de carvão
Aqueles desterrados dos sonhos legítimos
Sofrem depressões, angústias e ânsias
Aqueles que vagueiam pela route das metrópoles
Folhando os pensamentos
Do eldorado e calvário
As saudades e as vergonhas
Aqueles que se petrificam com a beata na boca
Cujos olhares brilham a metal
Cujas vozes crepitam sons soltos
Sou o desespero dos:
José, Pedro, Maria, ana, Paula, Mohamed, Mamadou, Demitrie, Dialo,
Jesus maria José … vitimas da incúria e da maledicência, do egoísmo …
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zumbido do zumbi
Dou por mim no vazio
De angústias, de sonolências
De não poder dormir…
A minha cabeça parte
Os meus olhos reluzem
Focando nas luzes dos prédios e dos veículos
Feixes de luzes cruzam zazzzzzzz….
O bué do tempo que não passa
O bué da escuridão que não liberta
O bué da fome na cidade
Tudo bué…
Tudo puré…
A crise espeta nos iiiiiiiiiiiisssssssss
Palavra louca e malvada…
Malfadada loucura de novos tempos
Loucura da vida que não passa
Do dinheiro que não chega
Do trabalho que não aparece
Tudo bué… tudo bué
Apetece-me mugir
Latir na calada da noite
Uivar como lobisomem
Sumir no asfalto como zumbi
Ah cidade, cidade …
A crise cristaliza o individuo
Tudo cristal, cinza e amorfa
Bué….bué… bué…
O tempo bué que não muda  
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