- Trazer os mortos à vida. Não sei se é hipocrisia da vida ou se trata de um triunfalismo transcendental. Uma coisa é certa, esse fenómeno ocorre em toda sociedade cuja racionalidade reduz à irracionalidade. Pessoas fazem amor com os mortos; mortos fazem campanhas; mortos triunfam nos palanques transcendentais, com as suas mãos invisíveis para mudarem a ordem das coisas; mortos são homenageados quando na vida não passavam de gatos-pingados que viviam às rascas.
- Agora os rebelados são bons. Sujeita-se aos discursos pós-coloniais para criticar as visões hegemónicas do colonizador, sem ver para o nosso umbigo o que nós produzimos e reproduzimos para com os nossos “outros” nacionais. Já li e ouvi tantas representações negativas aos rebelados antes do «grau zero» da reviravolta, com a chegada da Mizá. De irracionais, de primitivos, os “outros” nacionais, de exóticos, enfim, inúmeras barbaridades carregados de ideologias coloniais.
- De invisibilidade para a visibilidade. Se no passado, os rebelados eram os “outros” nacionais, sujeitando-se aos manifestos de repulsa, agora continuam como “outros” nacionais símbolos da resistência. Quando os rebelados foram convidados para participarem numa exposição em Espanha, muitos nossos «artistas iluminados» criticaram a criatividade dos rebelados por não representarem os valores nacionais. Agora eu pergunto: quando é que existe uma identidade nas artes plásticas cabo-verdianas? O que eles entendem de representatividade cabo-verdiana? Por acaso já leram os vários ensaios e manifestos pós-coloniais?
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Uipu: milagre dos mortos e discurso pós-colonial aos “outros” nacionais
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