O cenário turvo do bairro era assente no acontecimento que marcara para sempre o nosso destino. Os meus olhos brilhavam como a lua cheia. Era o pavor e a revolta da nossa condição social de existência; clima de pessimismo e de miséria, descrença na justiça, na política que só servia nas épocas de campanhas, dos deputados que corriam de nós como o diabo corre da cruz. Nunca sentimos representado em nada. Os marmanjos ficaram felizes com o nosso voto. Comem e vestem dos bons, de intervenção para o bem da comunidade, nada. Agora eu pergunto: para que serve o deputado? Representar ou desenhar o ego para satisfazer uma trajectória ascendente? Se tivéssemos conhecimentos, poupava-nos de tamanha cosmética colectiva para mimar os infames.
Na esquina, turbas apinhadas sufragando numa sinfonia de lamentações da morte do nosso ente Pedrinho, o Malcom X que nunca conheceu a terra do tio sam. Faces nuas e cruas de pessoas pareciam quadro cubista; corpos disformes de 3D, achatados como o surrealismo de Dali; pingos de lágrimas jorravam nas encostam das faces negras das badias; os narizes brotavam lavas de indigestos que pareciam fornalhas de cheias do mês de agosto. As mãos negras tremiam, numa súplica de chamamento para o inferno. Os diabos urbanos fugiram para outra margem. Nem os abutres de cabeça de thugs ficaram para degustarem a carne do Pedrinho. Fugiram com as asas e prensas de Drácula.
Tal como se desenhara no céu, com as estrelas à riscarem o caminho do Pedrinho, na terra os primeiros contingentes da BAC e Nindja começaram a desenhar, num estilo espectacular, para dar conta do fatídico. Pessoas eram inquiridas, apontavam armas nas esquinas, de forma sorrateira, iam acampar o contingente para diversos ângulos do bairro. À acompanhar os cães uivam, despertando faces opacas das senhoras para lá da escuridão e dos vidros foscos das vizinhanças. As roupas que se encontravam nas cordas baloiçavam ao soprar dos ventos e empurrões dos contingentes.
E é neste dramatismo e fantochada da vida que a CSI made in CV tentavam descobrir o óbvio: grupos de marginais, conhecido no seio da BAC e Nindja. Os bandidos não se encontravam naquele momento por razões óbvias. Voaram para outra margem. Tornaram-se zumbie pelo menos um dia, sumiram no chão. De certeza que voltarão, para fazer novos estragos.
No céu as estrelas choravam enregeladas ao sopro da lua malandra que teimava esconder nas nuvens. A escuridão encontrava o peito do Pedrinho para uma nova largada, na viagem pela cidade da Praia.
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