Ads 468x60px

Labels

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A fornalha do crime e a bala perdida


Praia, 27 de Abril. O tic-tac do relógio marca  X horas(?) de manhã. Numa das fornalha do crime da capital, uma bala perdida perfura o olho de uma criança. Por ironia, a poucos metros do local do hediondo crime, o Ministro da Cultura, numa linha melódica de consenso, canta «doce guerra» para animar a malta. Os deputados, aplaudem, como é da praxe, numa paródia nunca vista em Cabo verde. Fiquei surpreendido com a tamanha harmonização do momento, no contexto, como se sabe, os eleitos da nação usam a porrada psicológica como arma de arremesso político. O vento da imundice já sopra na direcção do parlamento. Faltava violão para completar as serenatas aos mortos, aos desempregados e aos esfomeados da urbe.
O eldorado já não existe. O calvário é o ponto assente na doxa da vida urbana. O caminho de São Tomé ficará, na memória, na penumbra do tempo. Na Capital da República, em vez de «doce guerra», a cruel guerra se instala. Não é a Revolução de Jasmim porque o pseu-revolução dos gangues há muito que já se perfila no catálogo de práticas urbanas. Se as coisas continuarem assim, os thugs tomarão a bandeira, e o hino será a rima da Rap-pública. Serão proclamadas as palavras de ordem de digressão geométrica: o medo, a violação, o free-style, e os sanguinário tomarão o poder. O poder paralelo, o micro-estado, na des-harmonização da democracia chegará o poder. Trata-se de futurologia. Felizes quem gosta disso. O eixo da questão fere, tece, como esta…
Na fornadja (fornalha) do crime, o boka bedju desperta. Estalo. Pah! O cheiro fedorento invade a comunidade. Cheira a peste urbana. O povo tem medo desse bicho de ferro. Por detrás desse bicho, são os putos diabólicos de amas que comandam. Na Idade Média eram as amas que tratavam dos recém-nascidos. Na Praia contemporânea as amas pertencem ao «não lugar», as ruas.  Os mais velhos acreditam no poder dos terços, de rozadi, das forças ocultas… as faces de covas, erosão do tempo, no franzir de sobrancelhas caem gotas de águas. Chuva de lágrimas e soluços. A seguir, a sinfonia da morte, o choro se instala. A bala que não se vê fere a criança num dos olhos; cai inerte. Os olhos da vida, aos olhos do mundo. O mar de sangue no chão… o rasto da inquietude. No seu domicílio, no seu chão, no torrão da sua propriedade, de privacidade, a bala não escolhe ninguém. Já não vale estar em casa. As paredes já não nos protegem; as paredes tornaram-se invisíveis, transparente. Não separa o público do privado.  
A comunidade grita. O pânico se instala. Pede-se justiça Fafe. Os rostos do crime são muidos; sem rostos e sem coração. O Parlamento fica bem pertinho. Atenção …

Sem comentários:

Enviar um comentário