O
tempo é o tempo. O senhor de todos os saberes. Quem mata o tempo, fracassa em
cada pegada do seu pedestal. O tempo é a nave; a nave imaginária que cabe todo
o mundo e modos. No silêncio, a história se faz. Na cambalhota de trilhos
trocados, de sonhos fermentados, de crenças e descrenças num deus maior. O
tempo é deus.
No
arquipélago onde nasci é como um museu imaginário. Cada ilha tem o seu quadro. Quadros
policromos, outros monocromos, pintados de sanguinários pinceis, e de
implacáveis bastões.
Santiago
é a ilha do museu onde há bastões e pinceis sanguinários. Nos bairros as
relações de forças estão distorcidas. A força central está cada vez mais frágil.
Apesar de aumento nas fileiras policiais, os bandidos estão cada vez mais
perigosos. Institucionalizam-se com indumentárias, palavreados e acções destrutivas
da paz social. Tudo no barulho do dia e no calor da noite, na barba cara das
autoridades. Complacência? Será o prenúncio do fim do Estado? A anarquia geral
nas nossas urbes. O equilíbrio social é feito de relações de forças contrárias.
Na física, a relação de forças de sinal contrário dá zero. É o dito equilíbrio,
o grau zero da completude. Da paz social. Na sociedade cabo-verdiana temos
relações de forças desencontradas. Algumas constituem inércias de contracorrente
e contrachoque. A sociedade civil, por exemplo… A família perdeu a cartilha, a
igreja já perdeu a bíblia e o sistema político perdeu a Constituição. Os bandidos
assaltaram a paciência e a bondade da nossa gente. O sistema anda a drogar a
nossa gente. Não tenho muita fé no sistema político das ilhas. Os senhores do
sistema político para não perderem as mordomias tornam-se malandros. Recrutam nas
fileiras, os desesperados, os carrascos sem almas. Esses carrascos fazem o servicinho
de branqueamento, de assassinato de caracter, e de limpeza dos arquivos. As
ilhas afortunadas andam a perder a fortuna da paz. Venderam almas ao fausto que
por sua vez endossa ao diabo.
O
povo tornou-se piranha. Nas paletas do pântano azul, destrói-se a fortuna e
despreza a poupança. Dinheiro, gentilmente oferecido como Ajuda Pública ao
Desenvolvimento, é desbaratado em coquetéis e orgias. Trocam tertúlias com pornografias colectivas, de salões de festas, e de voyeur facebookianas. Riolas
nos cantos e perseguição aos seres pensantes; porque pensar atrapalha com
disciplinas e detalhes da nossa história.




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