Grogu mi allegro … mamma mia!

Parece exagerado usar e abusar de criações dos outros, faço-o por brejeirice e birra pelo facto de o sentido caber no palco da garrafa. Grogue como produto nacional tornou-se motivo de preocupação das autoridades. Preocupação quer dizer, no pior sentido; é que os nossos manos e manas das ilhas, devido ao abuso do espirituoso líquido, poderão perigar a continuidade da cabo-verdianidade. É isso mesmo. O facto de grogue ser factor dessa cabo-verdianidade, catalisador de sã convivência comunitária, tem sido um calvário para muitas famílias.

É caso para investigar se o grogue made in CV não esteve na origem da Revolução Francesa. Pelo menos o seu contributo como catalisador das vontades. Rezando a máxima dos valores Revolucionários e Republicanos - Liberdade, Igualdade e Fraternidade-, o nosso grogue é a matriz de consenso e de utopia revolucionária; também veicula traquejo linguístico, o desejo de classe no hiato de ser e de parecer; com grogue na cabeça todos são engenheiros, professores, políticos, poetas, músicos...

Ah grogue, chema…! Todos te querem mas ninguém tem a coragem de te aceitar. É por ser produto nacional feito numa unidade sem patente? Ou por ser a lente com zoom esquizofrénico capaz de imitar e ludibriar tudo e mais alguma coisa... Grogue é estratégico. No palco de grogue todos sabem representar. No palco de grogue, as memórias são expurgadas com valentias, momentos de glórias… mas também choros para uma reconciliação. É o cigarro da paz.

Grogue como “Instituição Total”- peço desculpa Erving Goffman mais uma vez. Bebendo grogue as coisas fluem. Os Lero Leros voltam e fogem. O seu agenciamento é eficaz. Os problemas pessoais e familiares parecem um quadro de Dalli; tudo plástico, fluido, capaz de perfurar o muro de inquietações favorecendo a liberdade na prisão. “Voando sobre o ninho de cuco” para a liberdade na cidade. Eu quero grogue para uma evasão suave. Dois copitos só… a minha cabeça tora e voa.