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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Djosa e Djucrucu na justiça popular


Não se riem. Ok. Santa Cruz é terra amada que tantos falam. Terra de banana, de Catchás, de Pálu nhas e mais nhas e tchas. A baía de Pedra Badejo é um selo gigante ilustrador da vida pacata, de brejeirice sereno, de sofrimento sofrido. Também a baia é palco de sonhos, aliás de muitos sonhos.
O meu namoro com Santa Cruz vem de longe. Como se costuma de dizer, marcado na costela. A minha mãe era de Santa Cruz. O meu namorico é tão forte que quando alguém fala mal de Santa Cruz fico fulo. A primeira vez que fui picado pela picardia de um político da praça fiquei chateado. Chateado si! O ilustrado de barbaridade do político disse, na altura, que um burro de São Nicolau era mais inteligente que os santa-cruzenses. Triste go!
Sempre que a minha querida Praia entra em transe de loucura, com o boka bedju no bram bram, Santa Cruz oferece-me os seus braços e sorrisos de descontracção. Entro no hiace do Djoca, num “tchas”, estou em Santa Cruz. A dor da memória de um tempo perdido, de verdura que se eclipsou; num ápice, os coqueiros, as bananeiras, e outros produtos fugiram para o céu aberto de sol e sal. Amargura de vida, uma agonia como canta Tcheka quando brada para o céu “tristi agonia, djusé na pó di cama…” enfim! Os Djuses de Santa Cruz estão na letargia provocada pela seca e grogue de Domingo Prego.
No hiace, na Achada Fazenda, ouço a música “nha guenti m bai santiagu, m xinti som di ferrinhu”. O sorriso começa a florescer nas pétalas dos meus lábios. Sensação boa que ajuda na dinâmica de lembrança e esquecimento. Em Salina, encontro-me com os rapazes da zona na porfia de quem era mais nadador. Um pouco mais afastado do bulício da porfia, Nha Antónia, que deus a tenha, veste uma camisola com estampa Canadá. Um dos rapazes fez piropo e goza com ela sobre a camisola. Ela responde para mim: “o que está escrito é ca nada. Quer dizer, não sou nada”. Grande Nha Antónia, paxenxa propi!
O meu palco maior de descontracção é no Cutelinho e Porto baxu, terra dos pescadores. Quando a faina é fraca os pescadores ficam juntos para discutirem tudo e mais alguma coisa. O Chibioti é mais mandador de boca de todos os presentes. De ar franzino, consegue sempre envolver os outros nas suas peripécias narrativas. O momento alto da conversa envolve a briga de Djosa e Djucrucu em pleno mar de Pedra Badejo.  A estória é antiga, a forma como ele conta, fez-me a chorar de tanto rir. A narrativa é basicamente no tribunal popular, a forma como o caso foi julgado.
- O Juiz pergunta ao Firmino o que tinha acontecido, quem é que tinha razão. - - O Firmino manteve-se firme: “Sr. Juiz, djosa teni força, djucrucu sta podedu”.
- O Doutor Juiz insiste: “Ó homi de deus! Conta homem. Quem tem razão?”
- Firmino: “Djosa teni força, Djucrucu sta podedu”
- Juiz: “olha homem se não disseres nada vais para cadeia. Então conta, senão!
- Firmino: “Djosa dá atum ku fisga…. Atum bai, bai, bai… dipos é puxa ku força. Djucrucu rema contra maré… ta bai… ta bai… Djosa teni força… Djucrucu sta podedu.”
O caso foi encerrado porque o Firmino não abriu o bico. Amigo é si propi.
Agora vejo tamanha semelhança com a nossa justiça. Redundância para não resolver o assunto. 

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