A Firmina é uma senhora firme. Nos seus afazeres, não costuma adiar tarefas. Se for comprar briga com a vizinhança, o assunto era tratado no próprio dia. De lábios grossos, tez negra, cara fechada como um touro, a valente senhora desafiou as autoridades, expulsando-as da sua porta em época de campanha. “Ah Firmina, a-nha é poderosa”, dizia o Cando Polícia.
Humilde como a maioria dos residentes do bairro, ela vive numa casa feita de basalto coberta de chapa de bidão; de compartimento simples: um quarto dividido por cortinados de Sicupira e um quintal onde desenvolve os afazeres domésticos.
No cair da tarde, boca noti, aconteceu uma coisa caricata, bizarra como a que foi acontecer na Cidade da Praia. O seu filho mais novo descobrira que o rádio tinha ficado pequeno; “mamã rádio dja toca ti qui fica piquinoti”. Realmente era pura verdade. O aparelho grande fora trocado por um mais pequeno. Era a obra de Zé rádio, o famoso ladrão que tinha fugido da prisão depois de um tenebroso apagão geral na praia city. No momento de espanto e de um “meu deus sim pega m ta mata”, a rádio nacional noticiava na voz de Santos Nascimento o seguinte: “ mocinhus, atenção: um cidadão conhecido por José Rádio e um grupo de Thugs tomaram de assalto o Palácio da Justiça e o Parlamento. Segundo os dados apurados, o cidadão José Rádio barricou-se no Palácio da Justiça exigindo a queima de todos os arquivos, inclusive de alguns políticos. No seu entendimento, todos os cidadãos precisam de uma segunda, terceira e muitas oportunidades porque nada funciona em Cabo Verde. Tudo está errado, inclusive o procurador da república que é procurado pela incompetência. Neste momento nos arredores da Praia City, o sinal é de estado de sítio. A residência do PM foi assaltado, levaram os geradores e várias caixas de calmante; a Electra foi assaltada, enfim…. O pequeno rádio entrou em transe de bateria.




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