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sábado, 26 de outubro de 2013

A fonte e o monte


Depois de uma caminhada, pelos trilhos dos caminheiros da ilha de Santiago, as ondas do meu olhar reclamam poiso. Paro no Pico da Antônia para celebrar o tempo, depois de uma farta chuva. A natureza fogosa acolhe com satisfação a bendita chuva, numa festa de cores e sons. Os basaltos parecem todos vernizados, as terras cheiram a fresco de uma manta lavada nas ribeiras. As gramas, soltam do chão, volumando encostas como pinceladas impressionistas. Lances de pegadas artísticas que Deus nos brinda, com humildade. Esse esforço divino é um gesto para a humanidade; acolher e celebrar como se fosse em um espaço sagrado. A natureza também é sagrada. Eu pelo menos entendo assim.
Na outra margem, vejo o sopro do tempo, nevoeiro que se encrusta no peito do monte. Fumos, de cigarro divino, abraçam com véu branco a composição do monte; casas térreas, árvores fruteiras e animais. A jusante, água corrente que jaez a moldura do lugarejo, cristal de sonhos muito acalentado pelos nossos camponeses. O destino é a fonte, boca que acolhe e retribui, consoante a economia local. A fonte é um lugar de romaria, de grito e de silencio; também de socialização d'alma. Na fonte arranja-se namoros, casamentos, inventa-se anedotas, até brigas. Quem não se lembra Norberto Tavares, trovador desses momentos únicos da vida rural, cuja crônica musical retrata essas vivencias.
O sol, como sempre, é atrevido. Depois de dormir na outra margem, aporta mudança de rotina. O olhar voyeur do sol, alimenta suposições de uma torcida erótica, que com feixes penetram no leito do monte. Descobre o lençol do tempo, de relance tudo se torna público. O pentelho da rocha, urzela, discorre à pique para a ribeira. Nela goteja água do basalto, que como diz a lenda, Pinco d' Antônia é vulcão prenhe de água. A orgia da natureza é um espetáculo aos olhos do mundo. A química e física, todas juntas no momento de mudança.
O vento sopra na mesma vertente, com viés de carícia e novidades. O seu sopro de trompete namora o tempo, bate na rocha, e leva novidades à fonte. [...]


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