A memória é como o ar que respiramos. Sem ela, a nossa
vida não faria sentido. Tudo que nos alimenta, tem na memória a estrutura que
nos suporta. A destruição de lugares de memória em Cabo Verde tem sido
constante. Tudo que se faz é justificado com o discurso da modernidade. Os
detractores de memória esquecem-se que a modernidade é que resgatou a memória,
atribuindo-lhe sentido e a universalidade, apesar de alguns descasos.
O que me motiva para escrever este texto tem a ver com
a visão do desenvolvimento que autarquia deliberou para a destruição de um
lugar físico e simbólico, o antigo Mercado Municipal de Santa Cruz. O Mercado,
apesar de desprovido da exuberância arquitectónica, é o lugar histórico e
simbólico de grande importância para a compreensão do quadro socio-histórico do
Concelho. A imaterialidade que o envolve é fundamental para a sua valorização
enquanto património colectivo. Fiquei triste quando li no Jornal A Semana
(1059), de 24 de Agosto, que o Mercado Municipal vai dar lugar a uma “praça
digital”… salvo o respeito que me merece os responsáveis da inusitada ideia.
Porque não a reconversão num mercado de produtos
locais?!… Refere-se ao artesanato e outros produtos confeccionados localmente.
Bastaria pequenos arranjos no espaço e elaboração de discursos de suporte, para
transformar o Mercado num produto coerente, respeitador do seu traçado
histórico.
A centralidade que a baixa do Porto de Santiago perdeu
seria facilmente resgatada com a criação e a dinamização de fileiras de espaços
e produtos locais. O desenvolvimento turístico teria ganho importante para o
desenvolvimento do território e da população.
Santa Cruz não precisa copiar os maus exemplos de outros
municípios; bastaria sensibilidade, criatividade e vontade política para
transformar a invisibilidade em algo palpável e rentável para o benefício da
sua gente.
Um filho de Santa Cruz que ama muito esta terra cheia
de potencialidades.
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