A lenda
urbana ganha corpo. As estórias contadas de infância eclipsam no baú da
sargeta. Romarias de imaginações sufragam momentos de apuros, tecem na costura
urbana da Praia city. Praia virou assassina. Os motivos são vários. O mito
urbano diz que o corvo havia muito que se poisou no cemitério da varzea. Corpos
disformes seguem os seus traços no caminho de Santiago. A estrada de Santiago
ganhou pedregulhos e espinhas. Nem as estrelas brilham para iluminar os sonhos,
há muitos desfeitos.
As casas
perdem tino. Não há juiz que aguente a tamanha apatia das autoridades. A
comunidade está ferida de morte. O silêncio perdeu o sinal. O barulho dos canos
dos bichos ganha corpo em cada incursão urbana. É a nova largada no tempo de
salve quem poder. O mocho, no seu sítio, ninguém ousa sentar. A Mariana chora
firme, jura vingar a morte de um parente. Choros da comunidade são apagados com
mais notícias de propaganda. O fulano foi capturado, o sicrano está de conluio
com as autoridades. Que a jantarada de campanha é uma realidade. A Mariana
chora mas não enfraquece, não há desmaio e nem o medo a demove da tentação. A
vingança de alma ferida.
A violência segue o seu intento firme. Ganha
corpo de um gigante assassino de musculatura imponente. A cara feia do crime é
o novo sinal de intimidação. A rua está deserta. Nem alma e vivalma ousam dar
corpos a bala perdida. As balas são as novas alienígenas que invadem a nova
Praia. A Praia que chora, que declina, que enfraquece na corda bamba do crime.
Os valores foram enxugados e apagadas nos muros da cidade. A subversão dos
valores segue os trilhos dos guizos dos pastores. Sons de longe é o benefício
da morte. A cabra cega foi fodida por um pastor.
No caminho
de santiago moravam os sonhos. As pessoas falam de que o sonho é o único
caminho de fuga da realidade. A realidade, crua e nua, manifesta-se em cada
esquina. Os sonhos parecem os matrecos na casa da falecida Porfica. As bolas do
sonho são as carambolas que entram no buraco. A reprodução mecânica de chute no
sonho, o engenho perdido.
O Pedrinho
petrifica de tanto pensar. Chuva de lagrimas escorre da face fria do Pedrinho.
O sentido do seu olhar discorre cenas episódicas da infância. Momentos de
liberdade, de solidariedade de infância da Praia… mas também de recordações de
penúria que lacrara a vida de muita gente no interior de Santiago. A memória de
Pedrinho parece um artefacto holográfico. As cenas do quotidiano de Santiago
são reconstruidas de forma autêntica. Bicharas que fintam a morte comendo lixos
e pedras, trilhos desenhados nas encostas das montanhas, as viagens de mulas
para a Praia, os funcos e os sobrados ganham lugar de imponência na memória. A
vida quotidiana, simples de arranjos e perfeitos nas relações, traduz a
harmonia e a coesão interna. As brigas nas comunidades eram facilmente sanadas
com o mecanismo de punição social.
O carro
da Maura Company segue sem parar. Os presentes, no debate urbano, proclamam
tréguas da paz. A irmandade questiona o sentido colectivo e a morabeza nas ruas
de amarguras….



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