O
desenvolvimento comunitário, baseado na apropriação endógena dos recursos
disponível para a reactivação, a regeneração e alavancagem, é possível. Refiro-me
ao desenvolvimento local - ou melhor de várias localidades baseado na glocalidade, cujos atributos se fundamentam
na inovação social, no património material e o imaterial (sem dúvida o poderoso
activo de desenvolvimento de Cabo Verde), o empowerment, a criatividade e a
educação para a cidadania.
Faz parte da prática da política pública
apropriar modelos cuja aplicação na nossa realidade fracassa em vários níveis:
uma política educativa “acumulativa” e desenquadrada; a nossa memória
colectiva, o património imaterial, tem sido aspectos laterais na política
pública. A justiça lenta, com inúmeros processos a prescrever e por arrasto o
descrédito no “não-sistema”. Daí o “síndrome” patológico da sociedade:
somatório de morte e a tendência para a sua banalização. A excessiva
dependência do Estado tem sido entrave para outros voos; o engajamento
comunitário para o desenvolvimento e a reactivação da memória para o
desenvolvimento sustentável e integrado.
A criação de um programa do desenvolvimento
comunitário, de forma extensiva e intensiva, seria sem dúvida uma das vias
indispensáveis para a resolução de inúmeros problemas que o país enfrenta. O
seu impacto, a sua medição, só seria efectiva ao longo prazo. Tratar-se-ia de
aspectos ligados ao desenvolvimento agregando valências da civilidade, da
cultura, da economia, na perspectiva sustentada e integrada. Para conseguir
esse desiderato, o Estado teria de mudar a sua estrutura. O recorte de
competências, a descentralização e a desconcentração das decisões e recursos. O
Estado interviria nos aspectos da mediação, de incentivos, residualmente, no
consumo e na produção.
BI (Bilhete de
Identidade) da Comunidade
A vivência comunitária faz parte da nossa
trajectória enquanto colectividade. É na comunidade que a nossa memória
colectiva se constrói e se reconstrói. O nó da coesão colectiva passa por esses
suportes de memória. No passado, o nó era mais forte; actualmente, cada vez
mais frouxo. É na comunidade que se construíram Histórias, estórias, fábulas e
lendas, que certas personalidades perpetuam na nossa memória. Todos nós temos
na nossa memória eventos, acontecimentos que se tornaram referências. É com
essa selecção da memória, de recortes de eventos, que se constrói o BI da
Comunidade. Identificar na comunidade a imaterialidade que se encontram nos
baús da nossa memória. Seria interessante demais ouvir dos mais velhos os ensinamentos,
reactivando a memória positiva; escrevendo a história local em parceria com as
escolas. Não há comunidade sem a memória. Identifica-la, documentá-la e
ensiná-la é o nosso compromisso.
Criatividade,
inovação e a economia local
A criatividade sempre aconteceu e acontece no
seio da comunidade. A história das manifestações culturais é cristalina nesse
aspecto. Inventou-se géneros musicais, recriou-se manifestações culturais,
apropriou-se e tem-se apropriado de outras geografias e outros mundos. Infelizmente
que, essas construções e reproduções, não contribuíram no desenvolvimento
económico da comunidade. O desenvolvimento da economia local, com o
envolvimento da comunidade, seria fundamental para a auto-sustentabilidade da
comunidade e na suavização do estado-dependência.
Na comunidade poder-se-ia criar empresas
(individuais e colectivas); pequenos artesanatos, industrias que exploram o
património imaterial (CD, DVD, camisetas com estampas do nosso património); e
outras empresas decorrentes da necessidade do mercado.
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