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sábado, 19 de maio de 2012

Entrevista no Jornal a Nação


"Boa tarde Carlos Mendes. Tendo em conta as novidades do último recenseamento eleitoral, verificou-se que dos 6 mil e tal jovens que completam 18 anos até 1 de Julho, apenas um terço, cerca de dois mil e tal se recensearam. A Directora-geral de Apoio ao Processo Eleitoral, Arlinda Chantre afirmou que esse facto deve-se ao desencantamento dos jovens pela política. Queria uma análise/abordagem sociológica sobre essa questão." [entrevista da jornalista Carla Gonçalves concedida em 10/05/2012]




- A Juventude está desiludida e desencantada com a política e com os políticos a seu ver, a que se deve esse desencanto, alheamento e desinteresse juvenil? 

R: respondendo a sua pergunta sobre a relação juventude e a política, não tendo um enquadramento empírico sobre a questão, devo dizer-lhe que, de certa forma, esse comportamento é sintomático da vivência política e do envolvimento cívico da sociedade em geral. Existe um défice de compromisso cívico da sociedade em geral, e isto se reflecte na nossa juventude. Esse fenómeno, é global, não se trata de um caso específico de Cabo Verde. O desencanto é nítido quando não se vislumbra a homologia entre a acção governativa e a expectativa dos jovens. Existe uma representação negativa da política, visto como um negócio do que como desenvolvimento de acções estruturadas e estruturantes para a satisfação do bem comum. 


- O que deve ser feito para reverter a situação?
Não sei se tenho a receita milagrosa para o problema. É evidente que o trabalho de participação cívica por parte dos cidadãos, por forma a granjear um capital de compromisso cívico, é uma metodologia que ajude a suavizar o fenómeno. É um problema estrutural que deve ser atenuado com o desenvolvimento socioeconómico e cultural dos cidadãos. A partir do momento que a lógica clientelista é purgada com acções desconstrutivas, capitalizando a criatividade e o compromisso cidadã, as coisas tomarão novos rumos.

- Porquê?
Porque a politização e a partidarização da nossa vida colectiva são indicadores de dissenso, em vez de unir, fragmenta a cidadania em retalhos. Falei na politização não no sentido pejorativo. Porque tudo que fazemos é política, nada escapa a essa dimensão…

- Contrapondo as estatísticas, visto que há registo de muitos jovens que participam activamente, fazendo campanhas eleitorais, e no final depara-se com um número muito reduzido daqueles que realmente votam. O que estará na origem desta contra-posição?

Esse fenómeno é complexo. Pelo que tenho notado nas campanhas eleitorais, o factor espectáculo envolve inúmeros recursos e interesses vários que fazem parte da lógica de propaganda político-partidária. Os jovens procuram o entretenimento, o negócio fácil, que o mercado eleitoral oferece. O que devia servir de momentos de questionamentos, de balanços de expectativas várias se traduz no momento de efemeridade, de superficialidade.
Como disse anteriormente existe um défice de compromisso cívico. Muitas pessoas não sabem o significado do voto. Esse comportamento é sintomático nos responsáveis locais e centrais, nos organismos públicos e no cidadão comum.


- Esse desinteresse político nota-se apenas naqueles que podem ir a votos pela primeira vez, ou  já é recorrente de pessoas que já conhecem a política um pouco mais?
É recorrente nos dois lados. Não tenho elemento quantitativo que justifique isso mas nota-se sinais evidentes nas paradas etnográficas que se fazem nos centros urbanos, periurbanos e nas comunidades rurais. Existe uma imagem negativa, no imaginário colectivo, dos significados da representação na democracia. As pessoas sentem-se desiludidas no relacionamento pós-eleições entre os eleitos e os cidadãos; a forma como é exercida o poder e o saldo desses exercícios trazem alguns desencantos na política.

- Que trabalho,  os políticos devem fazer  junto dos jovens para reverter e criar um maior interesse dos jovens pela política,  despertarem-no para o recenseamento eleitoral e e se consciencializarem para a importância do voto?
Os políticos, assim como a sociedade civil, têm alguma coisa a dizer sobre essa problemática. É preciso ir mais além da lógica partidária. Infelizmente, os partidos só produzem sentido na lógica da clientela partidária. Enquanto o compromisso de fidelização da sociedade civil para a importância da participação fica eternamente adiada. Já vi alguns sinais nos jovens políticos que se preocupem com o fenómeno, mostrando aos jovens da importância do voto. O trabalho de socialização sobre a cidadania que contemple todas as informações sobre o mecanismo de representação é um grande desafio que temos pela frente. Os jovens não têm informações de que os eleitos nacionais são os nossos “funcionários”; é a sociedade civil que deve exigir os saldos governativos, exigindo o cumprimento escrupuloso dos programas eleitorais, das virtudes e aspectos menos conseguidos das acções governativas.

disponivel no jornal a Nação 


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