Que o povo cabo-verdiano labora no feudo do imaginário, ninguém tem as mínimas
dúvidas. Os políticos descobriram as pólvoras ao fazerem promessas que no
mínimo estribam no ridículo; prometer comboios em Santa cruz, caso venham a
ganhar o poleiro, é de uma insanidade do primeiro vagão. Os mais velhos
escreveram, a literatura é nisto cristalina, que os cabo-verdianos dão muito
valor a imaginação do que a realidade. É evidente que nem sempre foi assim. A
nossa história da resistência demonstra isto como cristalino. Apesar da nossa condição
social de existência, matizado pela insularidade madrasta, os cabo-verdianos
sempre fintaram o destino para conseguirem vencer as amarguras da natureza.
Agora, se formos ver de olhos despidos, as coisas não têm sido valorizadas por
parte da nossa população. Não se trata da construção da nossa geografia real
que (alguns) tem vindo a construir, como diz alguém, de só a sol; temos vindo a
valorizar a geografia imaginária que não nos aquece e nem arrefece. Laborar na
fofoquice, na celebração do filho ou da filha de um dos nossos governantes não nos
acrescenta em nada o nosso compromisso de conquistar à nossa Nação.
Se alguma vez critiquei, não quer dizer que sou o mau filho da Pátria. Talvez
a mátria me dá razão pelo desconsolo perante esses estados de coisas. Viver
eternamente na mentira, na construção e reprodução da nossa geografia imaginária,
é viver eternamente na fábula do Peter Pan, que não engrandece o nosso destino
colectivo. Basta de poéticas da politicomania que nos fazem viver na caixa de
modorra de um sonho que em nada nos fortalece, pelo contrário, fomenta momentos
de apatia e de cegueira.
De poética ou realidade da necessidade da caixa, chamada de barriga, vale
mais do que as construções artísticas modernas e pós-modernas. Sei que há
alguns poetas responsáveis, como também há terapeutas do status quo, que
fermentam sonhos e geografias imaginárias para que as coisas continuem como
estão. É tudo na lógica di formiga ku tudu gosta.
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