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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Passos, traços e matrecos: a imaginação já era



Estou a ler um ensaio filosófico muito bom: “Passeios Filosóficos” de Jean-Yves Mercury. Um texto rico sobre os pontos invisíveis da vida que nos ultrapassa pelas circunstâncias actuais; o frenético, a monetarização da vida quotidiana, o de ter em vez do ser, etc; são questões que fazem parte da essência da vida e do prolongamento da nossa existência. Este é um aparte.
Nesta nota solta, corriqueira da deriva do inconveniente, traz-nos lembranças e sorrisos malandros. Quem não se lembra dos quadros da vida feitas de imaginações que nos apoquentava, enobrecia nas nossas esteiras e mundos imaginários, estórias contadas que ficavam nas fronteiras dos nossos bairros e casas… eram estórias, por isso imaginárias, que floresciam nas tramas da vida quotidiana que alegravam miúdos e graúdos… por causa dessas estórias não fazíamos muitas coisas, não saiamos às ruas com medo de monstros, finados, entre outros seres imaginários. Essas estórias, naquele momento, exercia controlo social no seio da comunidade; nos seus traços imaginários apertavam os nos da coesão colectiva.
Os seres povoavam o nosso imaginário, pareciam caleidoscópio de figuras-actores que entravam nas nossas casas. O Ti Lobo, Xibinho, Tia Ganga, Bocage, os três manos (Pedro, Paulo e Manuel) não eram outras coisas do que livros, romances da vida, alimentadas nas narrativas onde se pretendia encontrar a moral da estória. A moral da estória era o anel da descoberta. Essas imaginações eram eficazes naquele momento; os contadores faziam o trabalho do Estado; eram os nossos tutores da vida; Ensinava-nos a agir perante a lei, à sermos bons cidadãos, à ajudar os próximos, etc. Nas nossas cabecinhas pareciam reais… mas eram o encantamento da vida.
E agora? Os nossos contadores de estória, os nossos tutores da vida, faleceram todos; nos baús da memória fugiram e cristalizaram em corpos reais. O mito morreu! A memória colectiva morre em cada momento em qua há renovação de gerações; os media e a globalização completam o processo. Na dinâmica entre a lembrança e o esquecimento, o esquecimento vence sempre. E o Estado, onde anda?
Agora, vejo os Ti Lobo, Xibinho, Tia Ganga, Bocage, nas nossas cidades e bairros. O Ti Lobo, os políticos e quadros do sistema; Xibinho anda petrificado e incapaz! A Tia ganga: roubada e violada em cada instante! O Bocage transita com a sua inventona no palco da urbe, cada momento exerce a sua especialidade: gamanço yeah!
Agora, vejo mais outra estória: a pós-modernidade trouxe os rabelados à ribalta com as suas estórias. A educação artística mostra-nos o que os apoquentavam; porque é que não faziam parte do discurso da nação; o porque da invisibilidade…  nos seus quadros de vida povoam figuras, medos e reflexibilidade sobre a inclusão no panorama nacional.

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